O ex-deputado Lissauer Vieira continua na política.
Nilson Gomes
A ascensão de Lissauer Vieira na política foi meteórica e merecida. Começou como auxiliar de Juraci Martins, o Dotô Juraci, vitorioso para prefeito de Rio Verde em 2008, reeleito em 2012. Saiu da Secretaria Municipal de Comunicação para alcançar a Assembleia estadual em 2014. Chegou ao altíssimo clero ao renovar o mandato de deputado em 2018. Peço a paciência do leitor para rememorar a história.
Ronaldo Caiado, que ganhou para governador em 2018, havia acertado de a chefia do Legislativo ficar com o veterano deputado Álvaro Guimarães. Caiado cumpriu a palavra, mas o grupo que se formava para inflar sua base preferia manter as articulações. Zerava o jogo no pós-eleição. Conversa vai, conversa vem, ajustou-se de reabrir as possibilidades nos cargos da Mesa Diretora e nas comissões. Muito bicho de orelha foi ouvido, de mamando a caducando, até porque na política os dois gerúndios são conjugados em todos os tempos, modos, pessoas, vozes e números.
No resumo dos bate-papos, um nome se sobressaiu, o de Lissauer. Discretíssimo no primeiro mandato, presidiu a Comissão de Agricultura sem aprontar alarde e chegou incólume ao segundo. O rapaz tímido que pouco havia bradado desde 2015 se revelou um leão ao amanhecer 2019. Debaixo do quieto, construíra a fama de correto, esforçado e escorreito no trato. Angariou votações crescentes (29.676 em 2014, 37.550 em 2018) sem dever a deputados federais com quem dobrou ou ao governo.
Portanto, continuava sem coleira, não dependia de autorização para negociar. Senhor de suas vontades, conservava abertura com o grupo que saía e a turma que entrava, despertando a confiança de ambos. Foi o que bastou para alcançar a presidência do Legislativo. Cumpriu os acertos com duplo par, parlamentares e partidos. Uniu a Assembleia pela causa da reconstrução de Goiás. Era necessário, pois sucedia presidentes fortes, sobretudo José Antônio Vitti.
Poderia ter tomado o rumo de antecessores como Sebastião Tejota e Helder Valin, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, mas não havia vagas ali nem no dos Municípios.
Poderia ter sido candidato a senador ou a deputado federal, mas no meio do caminho teve uma perda. Uma perda imensa, a do pai, Carlos Vieira, em fevereiro de 2022. Conheci os dois na campanha do Dotô Juraci, em 2008. Asseguro: Carlos Vieira sozinho era meio Sudoeste Goiano; com o filho e os companheiros da Comigo, a melhor e mais admirada cooperativa das Américas, era um Estado. Sem o braço forte e o ombro amigo do pai, o filho sentiu o baque. Desistiu até da reeleição. Bisava o roteiro do presidente anterior, José Vitti, órfão de pai (de quem herdou o nome) que em quase tudo se parecia com o de Lissauer:
1 – Carlos e Vitti pai vieram para Goiás e ajudaram o Estado a crescer,
2 – dedicaram-se ao agronegócio, um plantando (Carlos era fazendeiro), outro proporcionando crescimento à plantação (Vitti pai extraía calcário desde a época em que morava em São Paulo),
3 – bancavam programas sociais com dinheiro do próprio bolso,
4 – eram ultraqueridos e respeitados em suas comunidades e ramos de negócio,
5 – os filhos os têm como inspiração,
6 – morreram com mais de 80 anos (Vitti em 2015 aos 89, Vieira na semana do aniversário de 82).
Os filhos se assemelham na liderança em cidades-base (Lissauer em Rio Verde e Acreúna, José Antônio em Palmeiras e Cezarina) e na militância classista (Lissauer na agricultura, José na mineração). Foram reeleitos para pilotar a Assembleia com bastante antecedência. Explicação para o favoritismo: fidelidade a deputados, a funcionários e aos projetos. Deram show de firmeza de caráter. Não administraram para lacrar: o que era bom para o Estado ia à pauta, discussão, votação e sanção.
Ai dos Governos Marconi Perillo e Caiado se não fossem o compromisso, a voz decisiva e a altivez de José Antônio e Lissauer. A tramitação está lenta? Diga a Lissauer ou Zé Vitti. As galerias estão lotadas de gente querendo briga? Deixa com Lissauer e Zé Vitti. No momento, ambos estão voluntariamente afastados da vida pública. Ou seja, prejuízo para a vida pública.
A boa notícia, que nos retorna ao início deste artigo, vem de amigos comuns: Lissauer mantém-se prestando obras para a população. Visitando. Dialogando. Retomou os negócios, não em substituição ao pai porque Carlos Vieira é único, mas em sua homenagem. Recebeu convites para ocupar diversas funções. Dispensou todas. A esperança repousa em seu plano de servir à população: a política ainda é ótimo espaço para quem presta prestar a quem precisa.
Nilson Gomes é advogado e jornalista.