Ronaldo Caiado, governador de Goiás | Foto: Reprodução - Montagem 3A Comunicação

Uma vitória afirmativa nas grandes cidades, como Goiânia e Anápolis, pode fragilizar as oposições para a disputa do governo e do Senado daqui a quase quatro anos.

Há três tipos de políticos. Primeiro, os meramente políticos, que não têm vocação administrativa. Segundo, há os que são administradores e, às vezes, fazem gestões eficientes, mas não são reeleitos. O que faltou? A visão política. Terceiro, há os políticos que também são administradores. São os melhores e de maior longevidade na história de seu Estado e país.

Daniel Vilela: sua ida para o lado de Ronaldo Caiado “dinamitou” as oposições | Foto: Reprodução

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado é político, e, ao mesmo tempo, administrador eficiente. Poucos políticos têm um conhecimento tão profundo dos meandros da máquina pública quanto o líder do União Brasil. Entre 2019 e 2022, operou um profundo ajuste nas estruturas do Estado — para além da adesão ao Regime de Recuperação Fiscal —, o que lhe permitiu governar com relativa tranquilidade. Acrescente-se que, apesar de todas as dificuldades, criou uma rede de proteção social que beneficia pessoas em todo o Estado. Na educação, os alunos falam em sensação de “pertencimento” às escolas. Criou-se uma “identidade” entre escolas, professores e alunado.

Porém, não se ganha eleição pensando de maneira unilateral, ou seja, só em gestão. Por isso, enquanto se movia para ajustar o Estado, o que contribuiu para o crescimento da economia em níveis superiores ao do país, Ronaldo Caiado fez política, sobretudo nos bastidores, e se mostrou um articulador de primeira linha.

Lula da Silva: caminhando para o centro político | Foto: EBC

A reeleição em 2022 prova a capacidade de articulação de Ronaldo Caiado, sua extrema habilidade política. Pensando adiante de vários aliados, conquistou o apoio do MDB, ou seja, de Daniel Vilela bem cedo, o que, de cara, desarticulou as oposições, que ficaram sem norte. Com Marconi Perillo desgastado e o PSDB dinamitado em todo o Estado, restava o MDB, que, por certo, lançaria candidato a governador, possivelmente Daniel Vilela.

A atração de Daniel Vilela para o projeto de Ronaldo Caiado dinamitou as oposições. Noutros pleitos, o principal candidato das oposições quase sempre obtinha de 30% a 35% dos votos válidos. Gustavo Mendanha, do Patriota, o segundo colocado no pleito de 2022, obteve meros 25% (nem a metade dos votos de Ronaldo Caiado — que conquistou 51,81%). O motivo é simples: sem Daniel Vilela — quer dizer, sem a estrutura do MDB em todo o Estado —, Mendanha se tornou presa fácil. Ele era tão desconhecido que, no interior, era chamado de “menino da Magda” (Mofatto). O candidato bolsonarista, Major Vitor Hugo, do PL, praticamente foi deixado de lado pelos eleitores, ou seja, obteve 14,81%. O motivo real? A força política de Ronaldo Caiado, que barrou o bolsonarismo. A onda bolsonarista, se elegeu Wilder Morais (PL) para o senador, “esqueceu” o ex-deputado federal que disputou o governo.

Bruno Peixoto: presidente da Assembleia Legislativa de Goiás | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção – Montagem 3A Comunicação

Bem, Ronaldo Caiado ganhou a eleição, mas, como político atento, no lugar de ficar apenas comemorando, já está se mexendo em termos administrativos e políticos.

No plano administrativo, ao colocar Pedro Sales, um executivo eficiente e sério, na Secretaria de Infraestrutura, Ronaldo Caiado sinaliza para um grande programa de obras. Mas não obras faraônicas, tão do agrado do “empreiterismo” (o sistema que prevaleceu em governos anteriores). O hospital para tratamento de câncer, por exemplo, é uma obra de amplo interesse público. A ampliação (e melhoria) da rede de rodovias está no radar. O dinheiro do Fundeinfra, por exemplo, será utilizado, desde já, na recuperação da malha rodoviária. A região de Rio Verde, a maior produtora de grãos de Goiás, será a primeira a ser beneficiada — o que prova que os recursos do fundo serão aplicados efetivamente na melhoria e ampliação de estradas.

A rede de proteção social será ampliada, com o objetivo de gerar uma inclusão verdadeira, para além da mera assistência, que, se é vital e necessária, não inclui de fato. O que reduz a pobreza efetivamente não é a assistência, e sim a inclusão. As pessoas precisam se tornar cidadãs, integrantes reais da sociedade. É o que Ronaldo Caiado planeja para Goiás.

Se já está operando no campo administrativo — inclusive discutindo as questões nacionais que afetam Goiás (reforma tributária, questão do ICMS) —, Ronaldo Caiado não descuida em nenhum momento da questão política. Primeiro, por causa da governabilidade. Segundo, porque o futuro chega mais cedo do que se imagina.

Há uma aproximação real com o governo do PT? Sim, há. Não se trata de conexão ideológica, porque o União Brasil e o PT têm divergências de fundo em relação a vários temas — frise-se, porém, que o UB tem ministros no governo de Lula da Silva —, e sim de criar uma relação administrativa que será positiva para o Brasil e para Goiás. O país não cresce por causa dos “acertos” de Brasília, e sim quando todos os Estados vão bem. Goiás está indo bem, mas pode melhorar ainda mais. Portanto, a conexão Lula da Silva e Ronaldo Caiado é positiva tanto para o país quanto para o Estado. Com perfis de estadistas, com a ampla experiência política, o petista e o membro do UB sabem disso.

Especificamente em Goiás, Ronaldo Caiado operou com mestria na disputa da presidência da Assembleia Legislativa. O presidente Bruno Peixoto tem seus méritos, porque soube costurar uma aliança política multifacetada, mas o apoio, sobretudo nos bastidores, do governador foi decisivo para que obtivesse uma vitória ampla e sem nenhuma contestação. O Executivo e o Legislativo nunca estiveram tão afinados.

Concluída a disputa da Assembleia, as bases políticas já começam a se articular para a disputa eleitoral de 2024, com as eleições para prefeito. Ronaldo Caiado está de olho nas movimentações políticas e, com discrição, já está operando. Porque sabe que a disputa de 2024 “mexe”, de alguma maneira, com a disputa eleitoral de 2026, a de presidente, governador, senador (duas vagas) e deputados federais e estaduais.

Professor Alcides Ribeiro e Ronaldo Caiado: aliados | Foto: Divulgação

As oposições estão fragilizadas, neste momento, e por isso vão tentar criar alguma estrutura — encorpar-se politicamente — com a disputa eleitoral de 2024. Digamos que o senador Vanderlan Cardoso, do PSD, seja eleito prefeito de Goiânia, daqui a um ano e sete meses. Com a estrutura da prefeitura da capital pode se tornar uma espécie de general eleitoral das possíveis candidaturas de Wilder Morais para governador e Marconi Perillo (PSDB) e Gustavo Mendanha (Patriota) para o Senado, em 2026.Criar uma alternativa forte (Ana Paula Rezende, Silvye Alves, Bruno Peixoto ou o prefeito Rogério Cruz) contra Vanderlan Cardoso em Goiânia pode ser um imperativo. Uma derrota na capital fragilizará ainda mais as oposições para o pleito de 2026.

O senador Vanderlan Cardoso, muito possivelmente, nem tentará a reeleição, talvez caminhando para uma eleição a deputado federal. Sem amparo na capital — leia-se de Vanderlan Cardoso —, há a possibilidade de Wilder Morais nem mesmo disputar o governo e optar por uma composição com Ronaldo Caiado e o vice-governador Daniel Vilela (que será candidato a governador em 2026).

Wilder Morais poderia se resguardar para a disputa eleitoral de 2030 — quando Daniel Vilela não será candidato a governador, se tiver sido eleito em 2026. O senador poderia ser candidato a governador com o apoio tanto de Ronaldo Caiado quanto do jovem líder do MDB.

Cabe observar, por fim, que, desde já, Ronaldo Caiado pôs em marcha uma operação para ampliar sua base política. Ao menos um deputado federal, Professor Alcides Ribeiro, do PL, já está em sua base. Outros tendem a seguir o mesmo caminho — inclusive a deputada federal Lêda Borges, do PSDB. Os deputados estaduais Gugu Nader, de Itumbiara, e Rosângela Rezende, de Mineiros, ambos do Agir, apoiaram Mendanha, em 2022, mas já estão na base do governo. Outros deputados também seguir o mesmo sendeiro — caso de Veter Martins (Patriota), de Aparecida de Goiânia. O prefeito de Aparecida de Goiânia, Vilmar Mariano (Patriota), está cada vez mais próximo de Ronaldo Caiado e um de seus principais interlocutores é Daniel Vilela. Consta que o próprio Mendanha estaria se aproximando do governo. O que faltou, até agora, não foi vontade de pertencer à base governista, e sim oportunidade, que está chegando.

Então, ao mesmo tempo que se prepara para fazer uma gestão para ficar na história — tanto em termos de crescimento quanto de desenvolvimento (a repartição dos dividendos do crescimento) —, Ronaldo Caiado está de olho no futuro da política em Goiás. Porque sabe que o futuro não se constrói no futuro, e sim no presente. E o futuro chega rápido. Daí a necessidade de interferir agora, mexendo nas bases políticas, para que ele chegue, digamos assim, de maneira mais suave.(E.F.B.)

Fonte Jornal Opção

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