Josley Gouvea
Josimar Salum
O Evangelho do Reino confronta, incomoda e, muitas vezes, é doloroso, porque não negocia com o ego humano nem se submete aos desejos da carne. Ele anuncia um Rei, estabelece um governo e exige arrependimento.
Onde o Reino é proclamado, toda outra autoridade é questionada, todo trono concorrente é exposto e toda vida é chamada a se alinhar à vontade de Deus. Por isso ele confronta. Por isso ele incomoda. E por isso, muitas vezes, dói.
Entretanto, é justamente esse Evangelho que transforma o pecador. Não por meio de estímulos emocionais, experiências fabricadas ou ambientes cuidadosamente produzidos, mas pela revelação da verdade, pelo chamado ao arrependimento e pela submissão ao senhorio de Jesus.
O Evangelho do Reino não promete conforto imediato; ele proclama vida sob o governo de Cristo. Não oferece autoafirmação; oferece mudança de mente, de caminho e de lealdade.
Infelizmente, o que tem sido amplamente anunciado em muitos contextos não é o Evangelho do Reino, mas um evangelho substituto, moldado para agradar consumidores religiosos. Um evangelho do entretenimento, da performance, da estética e da emoção momentânea. Músicas que fazem sentir bem, mensagens que evitam confrontar o pecado, discursos que não falam de arrependimento, cruz, obediência e justiça. Tudo isso pode gerar público e engajamento, mas não forma discípulos.
Quando o Evangelho é reduzido a uma experiência sensorial, a cruz perde seu lugar, o arrependimento desaparece e o Reino deixa de ser anunciado. Nesse cenário, a presença do Espírito Santo não é rejeitada abertamente, mas é silenciosamente substituída por técnicas, estratégias e linguagens que imitam luz, mas carregam trevas; que parecem liberdade, mas produzem escravidão espiritual.
Essa distorção se manifesta de forma evidente na transformação dos púlpitos em palcos. O que deveria ser lugar de proclamação da Palavra tornou-se, em muitos casos, uma plataforma de shows. A reverência foi trocada pela performance, o temor pelo espetáculo e o altar pela vitrine. Nesse ambiente, a sensualidade especialmente entre jovens passou a ocupar espaço, revelando uma profunda confusão espiritual.
A sensualidade exposta nos púlpitos não é neutra nem apenas uma questão cultural ou geracional. Ela denuncia a perda de referência do Reino. Quando o governo de Deus deixa de ser o centro, o corpo passa a ser. Quando a glória de Deus é substituída pela estética, a santidade é relativizada. Não se trata de idade, estilo ou aparência, mas de espírito. Onde o Reino governa, há discernimento entre o santo e o profano, entre o bem e o mal
e entre o que é pecado e o que não é.
O Evangelho do Reino chama à consagração do corpo, porque o corpo não é instrumento de autopromoção, mas de serviço ao Rei. Tudo comunica: palavras, atitudes, posturas e também a forma como alguém se apresenta diante de Deus e do Seu povo. Quando isso é ignorado, a plataforma deixa de apontar para Cristo e passa a atrair olhares para o homem.
Essa sensualização não surge do nada. Ela é fruto de um evangelho diluído, que deixou de ensinar sobre cruz, morte do eu, renúncia e obediência. Jovens são colocados em evidência sem discipulado profundo, sem formação no caráter do Reino e sem entendimento do peso espiritual de servir diante de Deus. O resultado é uma geração treinada para performar, mas não para servir; para aparecer, mas não para se submeter.
Há também uma falha grave e visível na ausência de jovens, moços e moças e adolescentes buscando somente a Jesus, interessados em oração, quebrantamento e arrependimento, mergulhados no desejo sincero de serem santos. Falta ver uma geração disposta a prescindir da diversão, do entretenimento e das distrações para buscar a Deus com intensidade. Essa ausência não revela um problema da juventude em si, mas uma crise de direção espiritual.
Na tentativa de “manter os jovens”, a igreja deixou de perseguir a oração e a consagração. Abandonou o chamado à renúncia, ao temor e à santidade, acreditando que essas coisas afastariam as novas gerações. Com a intenção de tirá-los do mundo, cometeu um erro trágico: trouxe o mundo para dentro da igreja. Em vez de formar discípulos, passou a disputar atenção com a cultura; em vez de conduzir a consagração, construiu palcos; em vez de ensinar a morrer para si mesmos, ensinou a se expressarem.
O resultado é uma juventude ocupada, ativa e visível, mas pouco quebrantada, pouco ensinada a orar, a jejuar, a esperar em Deus e a buscar santidade. Jovens não são preservados pela adaptação da igreja ao mundo, mas pela revelação do senhorio de Jesus, pela verdade que confronta e pela presença de Deus que transforma.
O Reino de Deus não convive com a mistura. Ele não se adapta ao espírito da época, nem se molda à cultura do espetáculo. Onde o Reino é anunciado com fidelidade, há confronto, arrependimento, restauração da reverência e retorno à santidade. O “púlpito” não é lugar de sedução visual, mas de proclamação da verdade. Não é palco de expressão carnal, mas altar de entrega.
Diante desse cenário, o clamor se impõe: que Deus tenha misericórdia. Que Ele restaure o anúncio fiel do Evangelho do Reino, purifique os corações, devolva à igreja sua função original e levante uma geração , jovens e adultos não seduzida pela visibilidade, mas rendida ao governo de Jesus. Porque somente o Reino transforma, governa e permanece.
