Atendendo a um sonho do pai, Luiz Orlando Carneiro se formou em Direito, mas a essa altura já trabalhava em jornal, sua paixão da vida inteira.
Nascido no Rio de Janeiro, mas identificado com Brasília desde que se mudou para a cidade, há 44 anos, o jornalista Luiz Orlando Carneiro era uma unanimidade entre todos os que o conheceram: só recebia o reconhecimento de sua competência profissional e da integridade de seu caráter.
Fez de tudo na imprensa, embora ao longo de toda a sua vida profissional só tenha trabalhado para valer em dois deles: o Jornal do Brasil, onde permaneceu por quase 60 anos, e o site Jota, dedicado à cobertura do Judiciário.
Atendendo a um sonho do pai, Luiz Orlando Carneiro se formou em Direito, mas a essa altura já trabalhava em jornal, sua paixão da vida inteira. Ele mesmo contava como começou a carreira.
Apresentou-se ao Jornal do Brasil para uma vaga de estagiário e perguntaram-lhe imediatamente se falava línguas estrangeiras. Ex-aluno de algumas das melhores escolas do Rio de Janeiro, revelou orgulhoso que falava correntemente inglês e francês.
Resultado: foi admitido, mas colocado imediatamente para fazer a cobertura do aeroporto, entrevistando celebridades que saíssem ou chegasse. Decorreu daí o conselho – e eram muitos – que dava aos iniciantes na profissão.
Nunca dissessem que eram bilíngues ou, pior ainda, trilíngues. Após dois anos de aeroporto, porém, fez uma rápida e brilhante carreira no Jornal do Brasil, à época reconhecido como o melhor do País. Chegou muito jovem à chefia de reportagem e, de lá, a chefe de Redação.
Assinava memorandos como Luiz O, que passou a ser uma espécie de apelido carinhoso. Por ser muito identificado com o Rio de Janeiro, foi uma surpresa ter aceito a diretoria da Sucursal de Brasília, onde substituiria outro grande jornalista, Walder de Góes.
Identificação com a capital
Luiz Orlando Carneiro nunca mais deixaria de morar na capital, com quem se identificou imediatamente.
Passou quase dez anos na direção da sucursal, à época uma espécie de embaixada da mídia. Ao deixar o posto, escolheu permanecer na empresa e, no jornalismo setorizado na época, tornar-se o responsável pela cobertura dos tribunais superiores.
Foi muito ajudado pela sua cultura jurídica, embora esta se igualasse a outra paixão, o conhecimento do jazz, objeto de dois livros seus. Passou a partir daí mais de três décadas no Supremo Tribunal Federal, onde se tornou conhecido como o 12º ministro.
Quando o Jornal do Brasil encerrou sua edição impressa e na prática deixou o mundo real, foi imediatamente para o Jota, que começava já com grande credibilidade no Judiciário.
Identificou-se tanto com o trabalho que mereceu do ministro Gilmar Mendes a avaliação de que “seu uso elegante do vernáculo, o domínio do campo jurídico e a assertividade na análise vão fazer muita falta ao jornalismo. Sua personalidade afável, o largo conhecimento humanístico e a sofisticada cultura jazzística, farão mais falta ainda ao Brasil”.
Muita falta
Sim, fará falta. Luiz Orlando Carneiro morreu na noite de quarta-feira, 11 de janeiro. Na virada do ano deixou pela última vez a cobertura do Supremo para uma avaliação médica.
Trabalhou, portanto, quase até o momento de sua morte, aos 84 anos. Todos os ministros do Supremo se manifestaram durante a quinta-feira, 12. A presidente do STF, Rosa Weber, lamentou em nota oficial a morte do jornalista.
“Com tristeza, manifesto sinceros sentimentos pela perda do excepcional jornalista Luiz Orlando Carneiro. Retratou o Supremo Tribunal Federal diariamente por quase três décadas, sempre com respeito à Corte e seus integrantes, levando a informação correta aos brasileiros. Em nome da Suprema Corte, registro que o jornalismo perde uma grande referência e um profissional que sempre será exemplo para as próximas gerações”.
Para o antecessor dela, Luiz Fux, de quem era amigo pessoal, Luiz Orlando “realizou a cobertura jornalística diária do Supremo Tribunal Federal por 30 anos com profissionalismo, isenção e seriedade. Perda irreparável para o jornalismo e para o Brasil, deixa um grande exemplo para a profissão”.
Por Eduardo Brito – Jornal de Brasília.