
A menos de um ano e um mês para as eleições de 2026, o cenário em Goiás é majoritariamente de dúvidas, com a exceção da candidatura do vice-governador Daniel Vilela, representante da base liderada pelo governador Ronaldo Caiado e hoje liderando todas as pesquisas. Essa é a única certeza. Fora daí, não se tem segurança sobre nada mais – e o cenário para o ano que vem permanece indefinido. O ex-governador Marconi Perillo concorrerá ao Palácio das Esmeraldas, depois de conquistar o 2º lugar no último levantamento da Genial/Quaest? Nem ele mesmo se arrisca a garantir que aceita o desafio. O senador Wilder Morais, que despontou em 3º lugar no mesmo ranking, até passou a dizer que estará presente na corrida, mas não deu nenhum sinal concreto para os seus aliados (poucos), e segue em relativa e morna discrição, pressionado pela sensação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro gostaria de ver o PL alinhado com Caiado e Daniel para compor chapa indicando a 2ª vaga para o Senado (a 1ª, como se sabe, é da primeira-dama Gracinha).
Classificada em 4º lugar pela Genial/Quaest, a deputada federal Adriana Accorsi jura que tem disposição para enfrentar o calvário de carregar o fardo negativo da esquerda em Goiás, no ano que vem, mas é papo furado para se manter em evidência. O PT necessitará desesperadamente de lançar os seus melhores quadros para o Congresso Nacional, buscando constituir bancadas consistentes na Câmara e no Senado. Ela obedecerá. Desperdiçar Adriana Accorsi em uma corrida infrutífera pelo governo estadual, sem qualquer futuro, seria uma espécie de suicídio político para o petismo goiano, passível de levar o partido a um esboroamento em um Estado onde a direita e o bolsonarismo são cada vez mais hegemônicos – como demonstrado nos resultados das urnas a partir de 2018.
Daniel Vilela é candidato a governador, ninguém discute. Ele encarna o projeto de Caiado para o futuro político imediato de Goiás – e Caiado prometeu “dar a vida”, em uma metáfora para lá de reveladora do seu empenho, pela vitória do seu vice. Marconi, Wilder e Adriana, nenhum deles pode por enquanto ser dado como postulante ao trono da Praça Cívica. Cada um dos três submete-se a uma série de fatores. Marconi continua oprimido pela sua enorme rejeição e, para evitar uma 3ª derrota consecutiva, é obrigado a considerar a busca sossegada de uma cadeira na Câmara dos Deputados. Wilder padece de uma fraqueza estrutural, qual seja a falta de conteúdo e de preparo para se apresentar como um candidato viável, além de depender dos humores do Jair – que notoriamente prefere a formação de uma maioria esmagadora no Senado e assim impor seus projetos para o país (entre os quais o impeachment de ministros do STF). Adriana, esqueçam: o PT precisa dela na Câmara (e nem ao Senado ela se aventurará, vale a aposta). Para o governo do Estado, o partido vai inventar um novo Wolmir Amado para fazer figuração e salvaguardar um palanque mínimo no Estado mais bolsonarista do Brasil.
Tudo isso significa que Daniel Vilela não terá adversário em 2026? Não é bem assim. Para começo de conversa, qualquer um – Marconi, Wilder ou Adriana – pode tomar a decisão de disputar, sonhando com as chances oferecidas pela margem de loteria que existe em todo pleito. De resto, outros nomes podem surgir. Quais, parece difícil imaginar desde já. A conclusão inevitável é que 2026, em Goiás, do ponto de vista eleitoral, ainda está envolto em brumas. De certa forma, pelo poder irresistível da imensa aliança comandada por Caiado a favor de Daniel, no momento ocupando todos os espaços da política estadual. Não há estímulo algum para os eventuais adversários. Enquanto isso, o vice-governador navega em mar de rosas, coberto por um céu de brigadeiro.
José Luiz Bittencourt