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Lideranças veem desafios no retorno à gestão com o vice Daniel Vilela, diante da configuração na base caiadista e cenário indefinido na disputa

O MDB deverá voltar a ter um filiado à sigla no
cargo de governador do estado de Goiás, após
intervalo de 27 anos, com a transferência do
cargo pelo governador Ronaldo Caiado (UB), que pretende se candidatar à Presidência da
República, para o vice-governador Daniel Vilela
(MDB). Apesar do retorno histórico, lideranças da sigla apontam desafios para consolidar a
provável pré-candidatura à reeleição do
correligionário.

A última vez que um emedebista ocupou o
Palácio das Esmeraldas foi em 24 novembro de
1998, quando Naphtali Alves de Souza deixou o
cargo. O político era vice-governador e assumiu
depois que Maguito Vilela, último eleito do
partido ao governo estadual, renunciou ao cargo
para se candidatar e vencer a disputa ao
Senado. No mesmo ano, o ex-governador Iris
Rezende buscou retorno ao governo, mas foi
derrotado por Marconi Perillo (PSDB).

O chamado “tempo novo” marcou ciclo com cinco vitórias eleitorais consecutivas em que o MDB, liderado por Iris e Maguito, protagonizou os quadros da oposição em Goiás. O tucanato ainda encerrou a hegemonia emedebista -iniciada na primeira eleição direta ao governo do estado após a Ditadura Militar, em 1982, com as vitórias de Iris, de Henrique Santillo, o retorno de Iris, até a última vitória, com Maguito.

Além da ocupação do posto, em abril de 2026, e da busca pela reeleição de Daniel, lideranças do partido apontam para manutenção da capilaridade e fidelidade para, eventualmente, iniciar uma nova hegemonia, a partir de 2027.

“É um partido que tem e mantém capilaridade em todo o estado e que nunca se reduziu a níveis de insignificância”, afirma Daniel, em comparação indireta com o PSDB a partir dos resultados emedebistas e tucanos ao longo das últimas três décadas, entre a planície da oposição e a estrutura da base governista.

“O MDB sempre esteve ativo e, mesmo nos
momentos de oposição, sempre teve uma
robustez e representou uma parcela significativa da nossa sociedade. É um partido hoje revigorado, renovado, com novos líderes e
líderes jovens, que vêm com outras
mentalidades, mas que se somam com os mais
experientes, que ainda exercem papel e
mandatos importantes por todo o estado”,
defende o vice-governador.

Segundo partido em número de prefeitos eleitos
no último ano em Goiás, com 47 gestores
municipais, o MDB alcançou a eleição de oito
vereadores em Goiânia e tem ainda dois
deputados federais e bancada com seis
deputados estaduais na Assembleia Legislativa
de Goiás.

“Acho que isso é uma característica do MDB nacional, tanto que o partido se mantém muito vivo e muito forte em todos os estados do país”, considera Daniel. O presidente regional da legenda ainda acredita na manutenção de engajamento de filiados e lideranças regionais, antes mobilizadas voluntariamente em torno de Iris e Maguito.”A gente espera que, tendo essa oportunidadede voltar a administrar, a gente possa novamente ter o reconhecimento da população e manter a visão que os goianos sempre tiveram. De que o MDB é um partido de grande colaboração e contribuição para o estado”, afirma. Ainda deputado federal, Daniel Vilela assumiu ocomando do partido em 2016, quando venceu uma disputa interna, travada nos bastidores, contra iristas que se posicionavam contra a plataforma baseada em “renovação” na sigla. As divergências ali originadas se materializaram em racha interno durante a disputa pelo governo estadual, em 2018, quando Daniel manteve a candidatura própria, enquanto Iris Rezende buscou, até a última hora, acordo para composição com Caiado, eleito senador quatro anos antes em chapa liderada pelo ex-governador. Prefeitos e lideranças históricas do partido apoiaram Caiado. Houve consequências. Além de se manter na oposição durante os primeiros dois anos da nova gestão, o atual vice promoveu, até o início de 2019, processo de retirada dos caiadistas do partido, até a aproximação com o Palácio das Esmeraldas, em 2021, quando as relações foram retomadas e houve resolução das crises regionais, como nos exemplos do prefeito de Goianésia, ex-deputado estadual Renato de Castro, e o ex-prefeito de Catalão, Adib Elias.

Arestas

Em resposta ao POPULAR, Daniel aponta que o partido, atualmente, está “pacificado e crescendo a cada dia”. O dirigente ainda aponta o crescimento dos quadros da sigla nas últimas duas eleições para projetar cenário favorável na disputa do próximo ano. “Tivemos uma grande evolução nessa eleição municipal e muitos prefeitos, inclusive de outros partidos, querendo vir para o MDB. Enfim, é uma perspectiva bem otimista e positiva para o futuro do partido”, conclui. Além da unidade interna, emedebistas apontam desafios para a consolidação do projeto político de Daniel em 2026. “Os desafios são inúmeros. Não existe favoritismo em política. Esse favoritismo se constrói diariamente, com trabalho. O grande desafio do Daniel é aprofundar, cada vez mais, esse debate sobre os temas de interesse do estado, se manter próximo das demandas reais.

Ninguém consegue nada isolado e ele tem contado com todo o partido, as siglas aliadas e o governo para isso, com uma convergência diária”, defende o deputado estadual Issy Quinan (MDB).
Já o ex-senador Mauro Miranda afirma que há
expectativa de que a volta de um emedebista ao
Palácio das Esmeraldas possa “ressuscitar” o
MDB histórico. “A política hoje está muito
prática, não tem mais aquela paixão que o MDB
tinha antes, com Iris e com Maguito, mas o
Daniel tem condições de ser essa liderar
avalia.

Próximo de Iris e Maguito e com atuação política desde a década de 1960, Mauro avalia que a candidatura em 2018 e a passagem pela
oposição a Caiado fez com que Daniel “chegasse forte agora”, mas recomenda: “vice não pode ser serviçal”. “O povo percebe isso. Se ele for só bate pau do Caiado, eu acho que ele perde. É preciso ter sua própria autoridade, mas sempre muito discreto”, aconselha.

Fonte: O POPULAR – RUBENS SALOMÃO

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