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Demóstenes Torres*

No país das frases que resumem vidas, há uma na vida que sintetiza o país, cujo autor dizem ser o senso comum, mas é proferida pela falta de senso: “Os homens públicos se dividem em ladrões, cornos ou homossexuais”. A carga de enorme preconceito fica ainda mais pesada quando o sujeito tem que xingar e a vítima não se encaixa nessas definições. É o caso do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Dia sim, outro idem, parte da imprensa critica o grande constitucionalista por semear conhecimento. Aí, o jeito é invocar Zeca Pagodinho cantando versos de José Inácio e Martinho Ferreira: “Cuidado com a inveja/ Ela ainda te mata”. Já matou. A mídia baseada em ofensas foi enterrada de cabeça para baixo pela falta de leitores e anunciantes, tanto que, em busca dos caraminguás da sobrevivência, apela para subcelebridades e suas estrepolias.

Em sua área de atuação, o Direito, Gilmar Mendes é uma estrela internacional. Nos congressos a que é convidado no mundo inteiro, o ministro dá nome a diversos seminários, mas por outro motivo ganhou de jornalistas o “Gilmarpalooza”, meme como o “Lulapalooza”, que bombou na posse do atual presidente, em 2023. Parodia-se o Lollapalooza, um festival de música que agita o autódromo de São Paulo. Qualquer que seja a atração, ela não batiza o evento. Na tradução do inglês, Lolapalooza pode ser alguém extraordinário, tipo Gilmar, ou um pirulito, esquálido como a mentalidade dos que o demonizam.

Os crimes contra a honra de ministros dos tribunais não são cometidos por pessoas do povo, mas por militantes em causa própria. Inclusive, os encastelados em portais, plataformas, podcasts etc.

Os ataques desembestados e sem razão contra Gilmar surgem sempre por ocasião do Fórum de Lisboa, um bem-sucedido círculo de palestras e debates de alto nível, cuja 12ª edição foi de 26 a 28 do recente junho. Como disse o craque Zico acerca da notoriedade, ali os participantes não podem deixar a carne cair do garfo que o almoço vira notícia. Aliás, a alimentação dos 2.500 juristas, políticos, empresários e investidores vira escândalo se não for em marmitex de alumínio.

O que o evento tem de especial para ser realizado na Europa, não no auditório do gabinete de determinado governador ou empresário, como sugere a cobertura da mídia? A resposta em uma palavra: qualidade, que não se consegue onde quer, mas de acordo com a oportunidade. O ministro Gilmar resumiu bem aqui no Poder 360: no Fórum de Lisboa, criado e liderado por ele, autoridades não somente proferem, mas também assistem palestras, debatem, “permanecem [no evento], fazendo um exercício de imersão”. Se fosse no Brasil, cercados de assessores e a agenda rotineira lotada, o entrosamento seria ficção.

Para a malta à frente do teclado, protegida pelas liberdades da Constituição guardadas pelo STF, governante não pode viajar, ministro de tribunal superior está impedido de se aproximar de experiências fora do país. Governador, então, fica autorizado a percorrer os municípios do interior de sua unidade da federação e para por aí. Pra que evoluir intelectualmente se posso continuar sendo uma mistura de peba com tatu-bola? O jeito é cavar um buraco e enfiar a cara no chão. Se puser a cabeça de fora, o tiro come, pois é forte a artilharia de celular.

A bolha que envolve os repórteres os isola da humanidade. Os brasileiros comuns, vacinados contra ismos e logias, admiram os conquistadores por mérito. As grandes universidades ao redor do globo convidam para seus quadros Gilmar e outros professores brasileiros. Nelas, seus críticos não são aceitos sequer como alunos. Há auditórios repletos, da Europa às Américas, que os ouvem em silêncio reverencial.

O contrário ocorre por aqui. De tão repetida, virou verdade a narrativa mentirosa de que Gilmar libera os ricos que protocolam habeas corpus. A lorota não resiste a simples pesquisa nos arquivos do Supremo. Dissertação de mestrado do advogado Pedro Velloso prova, após vasculhar 5 anos de habeas corpus, que mais de 90% das decisões do ministro beneficiam pobres.

A leviandade de tipos como o senador Sergio Moro fala em festa junina para definir os debates em Portugal. Depois, foi ao ministro cachorristicamente pedir perdão. Ouviu poucas e boas. Calado.

O IDP, Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, tem expertise em vender serviços, recebe patrocínios, nada ver com um de seus fundadores ser julgador. O Supremo, tão cheio de luminares, vê Gilmar brilhar. Seus colegas nutrem sincera admiração – exceção dos escravos da mídia, é assim nos tribunais

A capital portuguesa virou um centro de pensadores do Brasil graças ao evento jurídico. Em vez de apenas paisagens e gastronomia, os turistas verde-amarelos se acostumaram a ir para lá ouvir J.J. Canotilho e outras figuras das ciências humanas.

O Fórum de Lisboa se tornou tão gigantesco que, como disse o ministro, as autoridades vão até por conta própria, sem depender de recursos da entidade que representam. O tema deste ano, “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras”, reuniu a nata do pensamento que constrói, da mentalidade que desenvolve, da atitude que decide. À escumalha falta lembrar que se o pecado é capital, a pena, idem, como conclui o som do filósofo Zeca Pagodinho: “Rapa fora, Satanás”.

Demóstenes Torres é advogado e colaborador do Blog do Alan Ribeiro e Portal do Alan

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