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Leandro (à esquerda) e Leonardo (à direita): dupla marcou música sertaneja nos anos 1990 - Foto: Divulgação

Ao lado do irmão Leonardo, artista vendeu milhões de discos e emplacou hits tocados à exaustão ainda hoje em karaokês e bares goianos.

Ricardo Vinícius

A morte do cantor sertanejo Leandro, que completa 25 anos hoje, comoveu o Brasil após lutar contra um câncer e perder a batalha para a doença, aos 36 anos. Conhecido Brasil afora por causa da dupla com o irmão Leonardo, Luiz José Costa começou na música cantando em bandas, se apresentando sozinho e fazendo covers. Obteve notoriedade nacional no início dos anos 90, quando a música sertaneja começava a dominar as rádios do País. 

Foi uma das duplas mais bem-sucedidas do Brasil. Venderam mais de 35 milhões de cópias durante a carreira. Isso os deixa comercialmente atrás apenas de Chitãozinho & Xororó e Tonico & Tinoco. O primeiro sucesso dos irmãos foi “Entre Tapas e Beijos”, gravada no final dos anos 1980. Depois, vieram outras canções de sucesso lembradas até hoje, como “Desculpa Mas Eu Vou Chorar”, “Pense em Mim”, “Não Aprendi Dizer Adeus”, “Eu Juro (versão de I Swear), “Talismã” e “Solidão” – todas cantadas em karaokê e bares por Goiás. 

Leandro passou a ser conhecido, dentre outras coisas, pela personalidade reservada. Era sério, não fazia muitas piadas e gostava de ficar na sua. Jô Soares, por exemplo, chegou a brincar com Leandro durante entrevista no programa “Jô Soares Onze e Meia”, do SBT, por causa das respostas monossilábicas dele. “Ele só responde o que eu falo! ‘Tranquilo?’. ‘Graças a Deus’. ‘Na ativa?’. ‘Na ativa’. Se eu falar ‘tá dando?’, [ele responde:] ‘Tô dando’. Tudo que eu falo ele repete!”, disse Jô, que arrancou gargalhadas do músico.

Na juventude, trabalhou numa plantação de tomate, junto do irmão. A vida era difícil: acordavam cedo, andavam 15 quilômetros a pé, o serviço estava longe de ser mole. Em Goiânia, Leandro realizou bicos em farmácia, lojas de roupas e marcenarias. A sorte começou a lhe sorrir assim que pintou chance de tocar numa boate. Nesse período, os nomes da dupla variavam, até que, tempos depois, estabeleceu-se que seriam Leandro e Leonardo.

Com esse nome, explodiram nas rádios. Não demorou até receberam convite da Globo os chamando para gravar especial de fim de ano, algo semelhante ao que já havia sido feito pela dupla Chitãozinho & Xororó. A atração foi ao ar em dezembro de 1991, às 21h30. Além da presença de Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, João Mineiro e Marciano, tinha também participações ilustres de Elba e Zé Ramalho, identificados com a MPB. 

Tremendo sucesso aos levou a cair no gosto de Fernando Collor de Mello, então presidente da República. E, de certo modo, ajudou na tese disseminada posteriormente que a música sertaneja havia sido a trilha sonora daquele momento histórico. Essa visão foi documentada pelo historiador Gustavo Alonso em sua tese de doutorado defendida na UFF, “Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira” – o trabalho até virou livro.

“Pense em Mim”, sucesso de Leandro e Leonardo que marcou o ano de 1992, chegou a ser tocada pela banda dos Dragões da Independência depois de solenidade que marcou reabertura do Congresso Nacional. Em 2019, o hit foi regravado pelo cantor Johnny Hooker, artista pernambucano ligado às pautas da comunidade LGBTQIA+. Isso demonstra a capacidade da música dos irmãos de unir as pessoas. Afinal, não ligue pra ele. 

Leandro fazia covers de Roberto Carlos e Beatles

A primeira música da dupla a ir parar numa parada foi “Entre Tapas e Beijos”, lançada no disco “Volume 3”. A princípio, a faixa não seria a canção de trabalho, isto é, aquela escolhida para ser trabalhada comercialmente pelos artistas. Tornou-se sucesso em vários lugares antes mesmo dos artistas tomarem conhecimento. Tinha início uma demanda pelos autores da canção, como conta Leonardo na autobiografia “Não Aprendi Dizer Adeus”, de 2013.

Leandro cantava na banda Os Dominantes, que tocava covers de artistas como Roberto Carlos e os Beatles. Leonardo fala em cantorias descompromissadas em meio às plantações de tomate. Conta também que o irmão nem mesmo sabia de sua vocação para a música. 

Dores nas costas marcaram os primeiros sintomas do problema de saúde que causaria a morte de Leandro, o tumor de Askins, um tipo de tumor torácico, em 19 de abril de 1998. No mesmo mês, ele viajou aos Estados Unidos para realizar exames e, na sequência, iniciou um tratamento com quimioterapia. “Vou lutar mesmo que tenha 1% de chances de viver”, dizia.

A doença, no entanto, não lhe deu trégua. Menos de dois meses após receber diagnóstico, o cantor sucumbiu à agressividade do câncer. Leandro morreu em 23 de junho de 1998, mesmo dia em que a seleção brasileira perdeu o jogo para a Noruega na Copa do Mundo, na França. Pelo menos 300 mil pessoas acompanharam o velório e o cortejo do caixão até o cemitério em que foi enterrado, em Goiânia.

 (Com informações da Agência Estado)

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