Goiás se tornou, ao longo dos séculos, celeiro de grandes criadores de música. Diário da Manhã lista principais nomes do Estado
(Fonte: Diário da Manhã)
A inspiração deles traduz momentos vividos por uma multidão. Os bons e os de dor. Dão vida às dores de amor até a exaltação da existência e do que há de mais belo. Há aqueles que, através da melodia, conseguem tocar mais do que mil palavras. Esses são alguns dos papéis dos compositores, cujo dia é celebrado neste domingo, 15.
Neste dia, vale lembrar que Goiás é um celeiro de compositores que emocionam e embalam ao som de diversos estilos, do sertanejo à MPB. E para homenagear estes seres inspirados, listamos os dez maiores compositores de Goiás, cujas canções entraram para eternidade de nossa gente. Veja a seleção, a seguir, que vai da rainha da sofrência Marília Mendonça aos famosos da MPB local, como João Caetano ou Carlos Brandão. Sem esquecer, claro, do compositor do século 19 Tonico do Padre nem de Odair José e Léo Jaime.
Marília Mendonça
Antes de tornar-se a rainha insuperável da sofrência e a dar voz às angústias das mulheres no sertanejo, Marília era mais conhecida como compositora. Dos 12 até os 19 anos, a artista escreveu para nomes grandes do sertanejo, a exemplo de Jorge Mateus (“Calma”), Henrique e Juliano (“Cuida Bem Dela”), Cristiano Araújo (“É Com Ela Que Eu Estou”) e Wesley Safadão (“Agora é Pra Valer”).
Conforme o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), Marília, que comoveu o Brasil ao morrer aos 26 anos em acidente de avião, registrou 324 músicas em seu nome, além de 391 gravações cadastradas em sua autoria e de parceiros. Depois que assumiu a posição de cantora, tornou-se um dos maiores nomes da música brasileira. “Infiel”, “Alô Porteiro”, “Amante Não Tem Lar”, “Supera”, entre vários outros.
Odair José
Ele também é um dos compositores mais famosos de Goiás. Ao DM, contou que gravou o primeiro disco em 1967 e, desde então, se foram 37 álbuns. Contabiliza que tenha escrito cerca de 400 faixas. As mais famosas? “Eu vou tirar você deste lugar”, “Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)”, “Deixa Essa Vergonha De Lado”, canções que tiveram forte apelo popular na década de 70 e 80. Porém, sua obra tem se rejuvenescido e, agora, é conhecido pelo público mais jovem. Tornou-se, em outras palavras, um artista cult.
Dentre os trabalhos que lançou recentemente, um dos destaques é vai para o disco “Gatos e Ratos”, que foi sucesso de crítica em 2016. Em 2019, com o disco “Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio”, pela gravadora goiana Monstro Discos, foi elogiado. Atualmente o cantor e compositor disse ter um álbum pronto chamado “Seres Humanos”, que será gravado em breve. Apesar da estratégia de divulgação ser lançar apresentar as faixas aos poucos nas plataformas digitais, ele garante que o trabalho terá seu formato físico em vinil.
“Acho bonito”, afirma o músico. Seu processo de criação, ele explica, sempre foi o mesmo: a observação. “Eu escrevo o que vejo. Me coloco como um repórter musical que observa e devolve para o público na forma de canções. Talvez por isso as pessoas se identificam tanto com minhas músicas”, revela o artista, completando que até o começo do ano também irá lançar um documentário sobre sua trajetória.
Estércio Marquez Cunha
Para o maestro Eliseu Ferreira, da Orquestra Sinfonia de Goiânia, ele é o maior compositor goiano, em se tratando da música clássica. Dizem até que ele é uma espécie de “Mozart do Cerrado”. “É compositor de músicas de concerto, foi professor na universidade e fez doutorado nos Estados Unidos. Tem uma gama de composições abarcando todos os gêneros da música de concerto. Escreveu a primeira ópera goiana com texto do Miguel Jorge que estreou em 2019. É um compositor respeitado aqui e fora do Brasil”, afirma o músico.
Leo Jaime
Nascido em Goiânia, ele fez história no rock nacional, integrou a banda carioca de rockabillyJoão Penca e Seus Miquinhos Amestrados e, por muito pouco, não foi o vocalista da banda Barão Vermelho. Debandou e, para seu lugar, indicou o cantor e compositor Cazuza: “era rock pauleira, pesado demais”, declarou o artista, anos depois, em entrevistas.
Fora do Barão, ao longo dos anos 80, emplacou hits como “A Fórmula do Amor”, “Só”, “Esse Brilho em Teu Olhar” e “Gatinha Manhosa”. Em 1985, “Rock Estrela” deu nome a filme de mesmo nome dirigido pelo cineasta Leal Rodrigues, com Malu Mader, Andréa Beltrão e o próprio Léo Jaime no elenco. O cineasta Ranulfo Borges o entrevistou para o documentário sobre o rock goiano, em que conta história desde seus primórdios, nos anos 60.
João Caetano
Da Fazenda Buriti, município de Mossâmedes, ele se tornou um dos maiores nomes da chamada MPB goiana. Na década de 1980, tempo dos bares localizados na Praça Tamandaré, a parceria com o cantor e compositor carioca Ivan Lins – que gravou o segundo disco do cantor – rendeu-lhe trilhas de novelas. A canção “Tá na Terra” foi tema de “Salvador da Pátria”, da Rede Globo, e “Meu Coração,” da novela Pantanal, TV Manchete. Em 2006 a faixa “Retratos do Brasil” esteve na abertura da novela “Bicho do Mato”.
Talentos goianos, como Marcelo Barra e Maria Eugênia, também gravaram canções do artista. Para o DM, João Caetano revela que a infância passada na Cidade de Goiás o influenciou. “Sou de uma família de pais que são musicais. Na fazenda, escutava música sertaneja de raiz. Na Cidade de Goiás, onde estudei, escutava as cantorias das modinhas, das serenatas. Eram ricas composições da cidade”, recorda-se o compositor.
“Sempre fugia, de madrugada, para acompanhar Euler de Amorim e Julio Alencastro Veiga. Fui para Goiânia com alguma melodia pronta mas não conseguia vestir com letras minhas. Encontrei Otávio Daher, que é dono de 90% da minha obra. Nossa soma foi perfeita. E, por isso, minha música tem tanto cheiro de sertão e um odor de cidade grande. Assim nasceu o João Caetano compostor”, diz ele, um dos maiores cancioneiros do nosso Estado.
Zezé de Camargo
A história de determinação do cantor e sua família rumo ao sucesso já virou até o filme “2 Filhos de Francisco”. Juntamente com o irmão Luciano montou uma das duplas de maior sucesso no Brasil. O goiano conseguiu colocar na cabeça de praticamente todo braslero o refrão “É o Amor”. Além disso, possui canções como “No Dia em Que Eu Saí de Casa” “Você Vai Ver” “Mentes Tão Bem” e várias outras.
Amado Batista
Ele nasceu em uma fazenda de Davinópolis, em Goiás, que na época era distrito de Catalão. Em 1975, gravou o primeiro disco e, desde então, começou a trajetória da qual se tornou um dos maiores nomes da música brega com agenda lotada de shows até hoje. Ao longo de seus quase 50 anos de carreira, gravou 38 discos, sendo 28 inéditos, vendeu mais de 38 milhões de discos.Em parceria com Reginaldo Sodré compôs sucessos que ganhou o público a exemplo de “Meu Ex-Amor” (composta por Amado e Reginaldo Sodré) “Desisto” .
Carlos Brandão
Este nome forte da cultura goiana é um compositor gravado até fora do país. “Tenho mais de 500 músicas compostas e mais de 230 gravadas”, conta. Ele começou a escrever letras aos 17 anos com amigos no antigo Bairro Popular. Criava com nomes como: Silvio Barbosa, Marcio Cedro e Carlos Ribeiro. Este último, segundo ele, um dos grandes letristas que conheceu. No decorrer da carreira, seus parceiros mais assíduos foram Gustavo Veiga e Octon Macedo. Já ganhou festivais famosos como o programa “A Grande Chance”, apresentado por Flávio Cavalcante. Mas explica que ser classificado para o festival Abertura da Globo, em 1975, festival destinado a novos talentos e tinha nomes como Alceu Valença Luiz Melodia, um grande momento. Não pelo prêmio. Ele acha prêmios uma bobagem, porém porque concorreu com a música “Que Venga El Tango”, uma parceria com Silvio Barbosa, que recebeu arranjo do maestro Rogério Duprat que o deixou honrado. “Me fez bem ter uma música arranjada por ele. Ele foi arranjador da Tropicália, dos Mutantes e um dos grandes nomes da modernização da música brasileira”, esclarece.
Marcelo Barra
Ele canta a goianidade mas que ninguém e até a receita de um empadão goiano. Começou na música ainda criança. Aos 17 ganhou o Festival Comunicasom. Um dos marcos em sua carreira foi em 1982 quando lançou o compacto simples da canção “Araguaia” Pouco tempo depois, Fafá de Belém gravou a canção e o cantor ficou conhecido no meio musical de todo o país. Outra canção que o consagrou nacionalmente foi “Saudade Brejeira”, de José Eduardo Morais e Chaul.
Pádua
Começou a carreira na época de ouro da MPB nos bares de Goiânia, na década de 1980, quando gravou o primeiro LP. Em 1988, grava no LP “Vôo de Cantor”, com interpretação de Indiara, “Louca Magia”, música de sua autoria, que se tornou um de seus maiores sucessos e hino de todos os seus shows. Ele venceu vários festivais de música, com canções que falam desde a vida simples da infância até grandes problemas sociais como o “apartheid” na África do Sul.
Ely Camargo
A cantora e compositora foi uma árdua preservadora do folclore e da cultura brasileira. Além de compactos e dois discos, gravou cerca de 15 LPs, alguns dos quais foram lançados também em outros países, como África do Sul, Alemanha, Itália e Portugal.
Lindomar Castilho
Nasceu em Santa Helena de Goiás e ficou conhecido pela música-baião “Chamarada” e pelo bolero “Você É Doida Demais”, que se tornou conhecido no Brasil através da série Os Normais da Rede Globo. Outros de seus sucessos foram “Eu Amo A Sua Mãe” e o samba-canção “Tudo Tem A Ver”. Em 1981, assassinou a sua segunda esposa, de quem já estava legalmente separado.
Renato Castelo
É poeta, cantor, autor de letras e compositor. Nasceu em Natal-RN em outubro de 1947. Chegou em Goiânia em 1954 onde fez parte do elenco de peças do Teatro Inacabado da AGT e teve uma ativa participação em festivais na década de 1960 e 1970 e consagrou-se com a música Vila Operária. Tem músicas gravadas e parcerias com diversos artistas. A música “Metade da Metade” foi sucesso nacional nas gravações de Bruno e Marrone e Os Magníficos. Fez participação especial como compositor e cantor no disco “Marimbondos de Fogo”. Em 2017 lançou o CD autoral “Piracema”..
Joaquim Bonifácio e Joaquim Santana
Quem não os conhece pelo nome, certamente conhece os trechos: “Tão meigas/ Tão claras/ Tão belas/ Tão puras/ Por certo não há”. Sim, eles são os autores da canção “Noites Goianas”, música que se tornou até o Hino Oficial do Estado de Goiás e foi decretado pela Lei no 7.715 de 30 de outubro de 1973. A canção foi gravada pela primeira vez pela cantora e folclorista Ely Camargo.
Tonico do Padre – maestro
De acordo com o maestro da Orquestra Sinfônica de Goiânia, Eliseu Ferreira, quando o assunto é música clássica, este nome é histórico. Ele viveu no século 19 em Pirenópolis onde criou a Banda Euterpe. “Ele escreveu várias obras na música sacra e música instrumental. Dentre elas, a mais famosa é ‘O Concerto dos Sapos’, que descreve o amanhecer e entardecer e é uma composição erudita composta para instrumento de sopro”, detalha.
Gean Douries
Apesar de ser belga este é um compositor que o maestro Eliseu Ferreira diz ter grande importância para música erudita local. “Ele criou o Conservatório Goiano de Música, que depois deu origem à Escola de Música e Artes Cênicas da UFG. Regeu a Orquestra Feminina na década de 1960. E fez todo esse movimento quando a cena goiana era ainda incipiente”.
Fernando Cupertino
Ainda segundo Eliseu Ferreira é uma figura importante apaixonada pela música sacra e apaixonada pelas tradições de Goiás. “Ele também é médico e já foi Secretário de Saúde. Tem escrito muita música instrumental sacra e com essa vertente de preservação da cultura goiana”