Liderança, relacionamento e edificação segundo o propósito de Deus
Josimar Salum
20 de Dezembro de 2025
O chamado espírito de independência não se manifesta, em primeiro lugar, como rebeldia aberta, mas como autossuficiência, rejeição de autoridade, resistência ao vínculo, recusa em ser ensinável e rejeição da prestação de contas e da responsabilidade relacional.
Ele não deve ser confundido com maturidade ou responsabilidade pessoal, que são virtudes necessárias, mas reconhecido como uma das forças mais destrutivas dos relacionamentos humanos.
Esse espírito gera rupturas profundas entre pais e filhos, marido e mulher, irmãos, amigos e, de modo ainda mais sensível e grave, entre líderes e liderados na igreja.
Esse espírito raramente se apresenta de forma explícita. Na maioria das vezes, surge disfarçado de liberdade, discernimento, maturidade ou autonomia espiritual. No entanto, seus frutos revelam sua verdadeira natureza: isolamento, fraturas relacionais, quebra de confiança, fragmentação da comunhão e esterilidade espiritual.
Onde cada um busca ser “senhor de si” sem aliança, o resultado inevitável é a dissolução dos vínculos.
Nos relacionamentos familiares, o espírito de independência rompe o princípio da honra. Filhos deixam de ser ensináveis, pais perdem a capacidade de formar e de serem referência, cônjuges passam a competir em vez de guardar o pacto, irmãos se comparam em vez de cooperar, e amizades se tornam superficiais, pois ninguém deseja depender, ceder ou caminhar junto.
A independência absoluta transforma alianças em conveniências temporárias, enfraquecendo os laços e esvaziando os relacionamentos de profundidade e continuidade.
O problema não é maturidade nem responsabilidade pessoal, mas a independência que rejeita vínculo, que não presta contas, que não se submete à mutualidade e que confunde liberdade com ausência de compromisso.
Relacionamentos saudáveis não são construídos sobre independência, mas sobre aliança, honra, serviço mútuo e responsabilidade compartilhada. Onde esses elementos são rejeitados, o resultado é solidão e fragmentação.
Essa mesma dinâmica se manifesta de forma ainda mais grave na igreja, pois atinge diretamente o propósito do corpo. Quando o espírito de independência atua nos liderados, ele se expressa na resistência à exortação e à correção, na rejeição à prestação de contas, na obediência seletiva e no uso da “liberdade” como justificativa para rebeldia.
O discípulo deixa de ser discípulo e passa a agir como consumidor, crítico ou espectador: permanece presente, mas não se envolve; ouve, mas não se submete ao corpo.
Quando esse espírito atua nos líderes, revela-se no isolamento decisório, na ausência de transparência, na dificuldade de receber correção, na centralização de poder e na confusão entre autoridade espiritual e controle. O líder deixa de servir para se proteger. Em ambos os lados, o resultado é o mesmo: quebra de confiança, fragmentação da comunhão e paralisação do crescimento espiritual.
A igreja não foi concebida como um ajuntamento de indivíduos autônomos, mas como um corpo, no qual cada membro depende do outro. Autoridade existe para edificar, não para dominar; submissão existe para proteger e formar, não para anular. Onde o espírito de independência governa, surgem líderes sem filhos espirituais, liderados sem referência ou cobertura, ministérios cheios de atividades, mas vazios de vida, e estruturas que sobrevivem, mas não frutificam.
Nesse contexto, torna-se essencial corrigir a compreensão equivocada de cobertura espiritual. Biblicamente, cobertura não é teto, nem sombrinha, nem guarda-chuva. Essas imagens comunicam proteção passiva, limitação e, muitas vezes, controle, produzindo dependência infantil e restringindo o crescimento. Segundo a lógica das Escrituras, cobertura é fundação.
Fundação sustenta, estabiliza e permite crescimento. Ela não limita a altura; ao contrário, viabiliza a edificação segura. Ninguém cresce espiritualmente debaixo de pessoas, mas sobre fundamentos bem lançados. Quando líderes tratam cobertura como teto, produzem medo, controle, estagnação e imobilismo espiritual. Quando liderados buscam cobertura como sombrinha, produzem imaturidade e terceirização da própria responsabilidade diante de Deus.
Cobertura como fundação se expressa por meio de ensino sólido, exemplo de vida, correção amorosa, ambiente seguro para errar, aprender e amadurecer e liberdade para crescer sem romper vínculos. Ela não substitui a responsabilidade pessoal, nem elimina o discernimento; ao contrário, forma pessoas capazes de andar com Deus e com os irmãos de maneira madura.
A lógica do Reino não é “fique debaixo para ser protegido”, mas “seja edificado para se tornar responsável”.
Autoridade verdadeira não cria dependentes, cria filhos maduros. Submissão saudável não infantiliza, fortalece. Onde cobertura vira teto, surgem controle e medo; onde cobertura é fundação, surgem honra, crescimento, continuidade, vida e legado.
Assim, o antídoto ao espírito de independência não é controle, mas aliança; não é dominação, mas serviço; não é isolamento, mas comunhão responsável.
O espírito de independência rompe vínculos, processos e histórias, enquanto a aliança edifica, sustenta e conduz à maturidade. Somente sobre esse fundamento a igreja pode crescer de forma saudável, frutífera e fiel ao propósito para o qual foi chamada.
ASONE
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