Suspeito preso afirma ser membro da facção criminosa, e hipótese será apurada.

Os incêndios que deixaram quase 50 cidades do interior de São Paulo em estado de alerta nesse fim de semana podem ter sido causados por outro denominador comum além do tempo seco que toma parte do Brasil. Após um suspeito de atear fogo em matas ser preso e afirmar ser membro da organização criminosa, a Polícia Civil de SP investiga mais uma hipótese: a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas queimadas.

Três pessoas foram presas em Batatais, São José do Rio Preto e Porto Ferreira. Um dos suspeitos foi encontrado com um galão de combustível próximo a uma mata preservada em Batatais e, ao ser alcançado pelos policiais, afirmou ter agido a serviço da facção. “Inclusive, ele teria feito um vídeo dizendo que cometeria um incêndio em nome da facção criminosa. Então, é algo prematuro ainda, é uma primeira informação, e isso vai ser aprofundado agora no inquérito da Polícia Civil”, detalhou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em entrevista à “CBN São Paulo” nesta segunda-feira (26/08).

Após dois dias de combate, São Paulo não tem focos ativos de incêndios nesta segunda, segundo o governador. A ocorrência de incêndios criminosos é uma das frentes de investigação, mas o governo também destaca a criticidade do clima e a irresponsabilidade de pessoas que aproveitaram a situação para descartar materiais.

Ainda é cedo para concluir que haja interferência do PCC nos incêndios, pois alguns fatores divergem do modus operandi da facção, avalia a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Ivana David. Ela lembra que, nos últimos meses, houve uma série de ações contra o PCC. Geralmente, uma retaliação da facção viria acompanhada por um “salve” nas penitenciárias brasileiras, isto é, um recado espalhado entre os detentos.

“Claro que chama atenção todos os incêndios no país acontecendo ao mesmo tempo. É um país continental, com 8,5 milhões de km², então é uma infeliz coincidência, digamos assim, termos focos de incêndio no país inteiro. Nos últimos meses, várias operações tentando sufocar a organização têm tido sucesso, então talvez isso pudesse ser uma retaliação. Mas, na nossa experiência, quando isso ocorre, há um ‘salve’, uma ordem da facção. Até agora, ninguém identificou esse ‘salve’”, pondera.

Ela também destaca que o suposto vínculo do suspeito preso com o PCC precisa ser investigado com mais profundidade: “virou um ‘marketing’ dizer que se faz parte de uma organização criminosa. Mas é muito cedo para afirmar isso”.

Prejuízos à cana

Em São Paulo, o fogo queimou uma área de 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar. O prejuízo aos produtores rurais pode chegar a R$ 350 milhões, segundo a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). Diante disso, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), detalha que mais de 1,5 mil caminhões-pipa e cerca de 10 mil brigadistas do setor sucroenergético atuam com o governo estadual na contenção das chamas.

O governador de São Paulo mencionou, em entrevista, que as perdas podem ser de R$ 1 bilhão no Estado. O governo anunciou o direcionamento de R$ 100 milhões em seguro rural e uma linha de crédito aos produtores.

O próprio PCC tem interesses no setor energético — o mercado estima que ele domine pelo menos 900 postos de combustível. Já a hipótese de uma ação coordenada para atingir plantações de cana é frágil até que as investigações prossigam, diz a desembargadora Ivana David. “A possibilidade de sucesso é muito baixa, e a força da polícia fica cada vez mais próxima. Isso chama atenção do sistema de segurança, o que não interessa à organização criminosa. Ela se interessa em traficar drogas”, conclui.

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